18 horas. Estou sentado em uma cadeira reclinável na emergência esperando a medicação. Febre e garganta fechada. Ótimo acontecimento pra não ir à escola e ver Fluminense x Boca Juniors na tv, logo mais.
Observo as pessoas em seus pequenos dramas hospitalares enquanto dou discretas gargalhadas com o Bukowski. Na poltrona a meu lado um velho gesticula, seu soro já acabou há muito tempo. Faz menção de que arrancará tudo e irá embora quando uma das enfermeiras, uma grandona que deve aplicar terríveis injeções, o ignora. Trocamos aquele olhar de: "É brincadeira?".
Nesse momento reparamos em um casal à nossa frente. Ele, uns 27 anos, deitado, soro no braço, enorme, físico de jogador de basquete amador, olhar grato e meigo, muito meigo, dirigido ao dono de pequeninas mãos, dentro das quais as suas pareciam de menino, tamanha a segurança e o carinho recebidos. O outro, mesma idade, todo cuidados, bem mais baixo e muito magrelo dentro daquelas calças jeans apertadas de punk, do gigantesco cinto de couro com tachinhas e da miniblusa rosa.
Nesse momento reparamos em um casal à nossa frente. Ele, uns 27 anos, deitado, soro no braço, enorme, físico de jogador de basquete amador, olhar grato e meigo, muito meigo, dirigido ao dono de pequeninas mãos, dentro das quais as suas pareciam de menino, tamanha a segurança e o carinho recebidos. O outro, mesma idade, todo cuidados, bem mais baixo e muito magrelo dentro daquelas calças jeans apertadas de punk, do gigantesco cinto de couro com tachinhas e da miniblusa rosa.
- Hmmmm! Olha lá o jeitinho como eles se dão as mãos! E eu que achei que fossem irmãos.
- Tempos modernos! - Me limitei a dizer, enternecido com o carinho do casal gay e não querendo desapontar o velho ranzinza, que buscava divertir-se à custa da viadice alheia.
Das quatro enfermeiras que ali estavam trabalhando, uma me chamou a atenção. Magra, mulata, os crespos e bem tratados cabelos presos num coque acima do pescoço. Olhar e movimentos extremamente vivos, complacentemente simpáticos, deliciosamente sensuais. Torci pra que fossem aquelas mãozinhas a manusear minha bunda. As mãos da outra não... a outra devia dar injeções igual esmurrava o marido.
Escuto meu nome sendo chamado:
- Antônio Augusto!
- Eu aqui!
- A-ham! Muito bem. - Aproximou-se a mulata enfermeira. - O senhor queira me acompanhar à outra sala.
Suas palavras tinham um leve sarcasmo. Percebi que ia gostar daquilo tudo.
Suas palavras tinham um leve sarcasmo. Percebi que ia gostar daquilo tudo.
Sorriso vai, sorriso vem, os olhares ficam. Ela pede para eu afrouxar a calça e me deitar de bruços.
- Primeiro o anti-inflamatório, que esse não dói.
- Manda brasa!
- Agora uma que fará você se lembrar de mim: a benzetacil!
- Manda brasa! Desde a operação de hemorróidas tenho absurda resistência pra dor!
A enfermeira sorriu. Apertou um pedaço de minha bunda entre seu polegar e indicador e aplicou a injeção. Não doeu. Levei um tapinha e ouvi de novo o comentário:
- Garanto que de noite você se lembrará de mim! E nada de pedir massagem pra namoradinha!
3 da manhã. Insônia. A febre não sumiu por completo. O Fluminense foi eliminado com um gol aos 45 minutos do segundo tempo. A namorada não apareceu. Não posso beber por causa da benzetacil. Me mexo no sofá, assistindo a uma sofrível reprise de MMA. Minha bunda dói. Dói e coça. Minha bunda dói e coça e incomoda muito! A vida é uma merda mesmo! Tiro o cinto, enfio a mão dentro das calças. Coço a bunda e percebo algo grudado. Arranco, perdendo alguns pelos.
Era um band-aid com um número de telefone e um pequeno recado rabiscado:
"Adorei sua bunda. Jéssica".
"Adorei sua bunda. Jéssica".